Muito tem se falado em crise nos primeiros meses de 2012. A crise que se iniciou na Grécia, avançou por boa parte do mercado europeu e Hades, deus grego, tem tentado “arrastar” muitos países para o seu “mundo dos mortos”.
E é fato inegável que estamos sofrendo algumas influências da crise europeia aqui no Brasil; desde a baixa alarmante do dólar, prontamente combatida pelo governo federal, até a diminuição de operações comerciais realizadas com países europeus. Some-se a isso a crise americana de 2008 que ainda reverbera naquele mercado como um instrumento idiofone. Mas um setor em especial tem se sustentado de forma impressionante: o varejo.
Com a ascensão das classes C, D e E, o mercado brasileiro tem presenciado um crescimento no segmento de varejo como poucas vezes se viu. Mais de 30 milhões de pessoas passaram das classes D ou E para algo entre 4 e 10 salários mínimos. A compra de medicamentos de melhor qualidade, a aquisição de bens duráveis e o consumo de alimentos processados aumentou consideravelmente nestas classes. Por isso, há um movimento se desenhando, nos últimos três anos, de consolidação das redes de varejo. As médias redes têm se consolidado regionalmente e as grandes redes movimentam-se para adquirir as redes regionais e ampliar o seu mercado. Essas redes médias e regionais têm apresentado rotatividade tão forte que devem alterar o cenário nacional do setor no ano de 2012, fazendo frente às grandes redes, como Wal-Mart (e Sam’s Club), Carrefour e Pão de Açúcar (com as redes Extra e Assaí). São empresas como Supermercados BH (Minas Gerais), Salfer (Paraná) e Big Ben (Pará), com faturamento médio de R$ 1 bilhão.
Além disso as empresas estrangeiras que ainda não estavam no Brasil se apressaram para morder sua fatia. É o caso da chilena Cencosud, que comprou a Perrini (Salvador), a rede Bretas (com 76 lojas em Minas Gerais e Goiás) e a G Barbosa (Sergipe).
O que percebemos com esse turbilhão de fusões, aquisições e expansões regionais é que o mercado começa a dar sinais de como irá se comportar daqui em diante. É fato que as grandes continuarão grandes e farão de tudo para continuar crescendo com seu plano esmagador de expansão com aquisições bem agressivas. Mas o que mais chama a atenção é o crescimento anunciado do middle market, que tem tornado esse “segundo escalão” um foco para investidores. Nesse mercado secundário o atacarejo, modelo que envolve tanto o pequeno atacado, voltado para as pequenas empresas, quanto o varejo, tem se destacado. Como essas empresas chegam ao mercado com preços bem agressivos, elas conseguem abocanhar, especialmente, a fatia dos consumidores da expansão da classe C.
Podemos ressaltar também que o crescimento das redes de varejo (nacionais ou regionais), tanto do ramo supermercadista como nos demais (por exemplo, o de eletros) surfa também na crescente onda dos shopping centers, seja na expansão, seja na inauguração. Por mês, circulam cerca de 329 milhões de brasileiros (1,7 vezes a população total) pelos corredores de shoppings no país, segundo dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (ABRASCE). Em 2012, estima-se sejam inaugurados 50 novos malls no Brasil. E cada novo mall representa a inauguração de incontáveis novas lojas de varejo, dentro ou nos limites dos shoppings.
O ano de 2012 promete. E as empresas do middle market têm nele uma oportunidade ímpar, e talvez única. Por isso é muito importante que, além da tutela de Hermes, deus grego protetor dos comerciantes, todos os movimentos dados pelas médias sejam muito bem calculados. Seja preparando-se para a expansão regional; para uma provável aquisição por parte das redes nacionais, com a avaliação da empresa e auditoria independente dos resultados financeiros; ou para fundir-se ou aliar-se estrategicamente com os seus semelhantes, do mesmo porte, para evitar um atropelamento pelas grandes redes. Essa preparação permitirá aos médios, expandindo ou sendo adquiridos pelos grandes, uma mudança nos rumos das história do mercado de varejo no Brasil.
E Hermes parece mesmo estar vencendo a batalha mitológica, espantando toda a crise mundial, desta vez originada na Grécia, e permitindo um cenário espetacular no comércio varejista.
Gustavo Hanum Sardinha é sócio da Hanum Corporate Legal Advisers